Foto: Haroldo Saboia
Casa do Povo, São Paulo - 2017  

                             
Coreografia, para mimé um verbo. É materialidade que possibilita agir e tomar posição sobre distintos espectros do tempo histórico. Na coreografia, passado, presente e futuro estão em constante formulação e podem ocupar lugares simultaneos ou distintos na experiência. Como qualquer outro conceito, a coreografia está sujeita as questões de genero, raça e classe, sendo atravessada por relações de poder que devem ser tencionadas a todo momento.

Ela é política não por natureza, mas pelas presenças que ocupam seus momentos. Não há essencialismos que possam bloquear a ação política dessa ação. De preferência, aberta enquanto signo - sua tendência está conferida mais próxima das lógicas da possibilidade do que da impossibilidade - a produção de desejo coreográfico parte da tensão, da produção de tensões entre todas as entidades que participam da sua elaboração. Essas tensões podem ser dialógicas ou dialéticas, debatendo os movimentos e suas vontades, ora para alcançar sínteses temporárias, ora para nunca ter ponto de chegada. O ponto de partida é a relação e a vida em comunidade sem que necessariamente se saiba o por quê. 

É essa tensão que cria aquilo que chamamos estrutura. Agora, se essa estrutura estiver muito tensa, ela rasga, perdendo completamente a forma que a ação das forças que atuam sobre ela, especulam. Se ela estiver com pouca tensão ela desmancha e fica difícil de tateá-la de mover-se junto com ela para outros lugares físicos e psíquicos do desejo. A medida exata dessa comunhão de forças depende da relação que é construída antes, durante e depois da aparição pública coreográfica, junto de todos os entes e vetores que fazem parte da sua constituição.

Dirigir, para mim, é um verbo. Direção é uma seta, uma orientação. Quem diz que direção é uma função, um lugar social a ser ocupado dentro de uma estrutura cênica, cooperativa de preferência, está na superfície do conceito. No máximo, por vezes, existem pessoas que escolhem deliberadamente estarem mais atentas ao fluxo do rio e os desafios em continuar a navegar sobre as transformações recorrentes das correntezas e marés. Há essas pessoas, nomeamos, diretora, diretor, diretore. Mas lembrem-se: É sempre dirigir-se a alguém e/ou alguma coisa ou dirigir para alguém e/ou alguma coisa. Nunca dirigir alguém e/ou alguma coisa.

Se a coreografia fosse um animal, seria uma serpente e teria como direção a criação.