Biomashup

Foto: Haroldo Saboia
São Paulo, 2014 

                             
sinopse

Biomashup é um concerto de dança para 6 bailarinos e 1 músico

Dirigido por Cristian Duarte, o trabalho nos convida a um exercício de percepção permanente de um espaço ressonando ficções cinéticas. Os bailarinos, como forças dinâmicas, disponibilizam seus arquivos da dança, produzindo um campo de contaminação e regeneração povoado pela diferença de possibilidades e intensidades não esgotadas pelo tempo histórico. Ao vivo, o músico Tom Monteiro junto com o instrumento russo theremin – um dos primeiros instrumentos eletrônicos a ser inventado, e um dos poucos que pode ser tocado sem contato físico – enuncia desde o primeiro segundo a ética do trabalho: construir um movimento que é corpo sem ser do corpo. (Katz, 2014).
sobre a criação
*por Helena Katz, Caderno 2/O Estado de São São Paulo.

"uma rara combinação de densidade e beleza [que] inaugura um modo de dizer o próprio e o comum no corpo.”
“Os diferentes conhecimentos que se estabilizaram no corpo de cada um dos seis excelentes intérpretes vão sendo mostrados não como suas posses e sem atá-los aos pronomes pessoais. A forma que cada passo toma aparece como um desígnio (de design, de desenho, de destino), ou seja, vai simplesmente acontecendo como uma organização motora indispensável para o corpo dançar. Esse jeito que despoja consegue misturar o geral (vida) e o particular (história pessoal).”  

ficha técnica

Concepção, Criação e Direção: Cristian Duarte Criação e Dança: Alexandre Magno, Aline Bonamin, Clarice Lima, Felipe Stocco, Leandro Berton, Patrícia Árabe e Tom Monteiro Concepção musical para theremin: Tom Monteiro Desenho de Luz: André Boll Figurino: Daniel Lie Fotografia: Haroldo Saboia Design Gráfico: Renan Costa Lima Consultoria Artística: Bruno Levorin Produção Executiva: Daniel Cordova Realização e Apoio: residência artística Lote#3, 15ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo e Casa do Povo Apoio para pesquisa: Programa Rumos Itaú Cultural Dança 2012/14 Co-produção Festival Panorama 2014 Agradecimentos: residentes Lote#123, Mariana Kurowski e Ingrid Laurentino (estágio Edasp) pelo carinho com o projeto  

Produção-Difusão: Carolina Goulart/Cristian Duarte em companhia

Mais informações: http://cristianduarte.net/trabalhos/biomashup/

Vídeo do trabalho na íntegra:
Vídeo: Leo Nabucco
Casa do Povo, 2014




Foto: Haroldo Saboia
Casa do Povo,2014



Por onde vem
Texto escrito para o programa de estréia do trabalho

Bruno Levorin, Julho 2014.


Um concerto de dança para 6 bailarinos e 1 músico.

BIOMASHUP teve como ponto de partida o interesse em estudar, junto a um grupo de bailarinos-performers, variedades de presença do corpo em movimento. Os performers, algoritmos vivos que organizam informações, realizam uma dança (de)compositiva, gerenciada por repertórios, memórias, coleções individuais, e experiências sintonizadas a processos de seleção, adaptação e contaminação.

A obra pode ser apresentada, também, como um concerto. Co-habitando significativamente a pesquisa-criação, a música é entendida e tratada como corpo. O instrumento russo Theremin, operado por acordos sensoriais é trilha composta e tocada ao vivo pelo músico Tom Monteiro, que alcança no ar as notas emitidas pelas duas antenas que constituem o aparelho e modulam sua dança. Os bailarinos- performers e criadores são: Alexandre Magno, Aline Bonamin, Clarice Lima, Felipe Stocco, Leandro Berton e Patrícia Árabe. Cristian Duarte atesta seu interesse por uma estética que coleciona distintos momentos do tempo histórico. Olhando para os lados, o coreógrafo percebe histórias que navegam por uma teia de acontecimentos, cujo tempo se faz desejante e crasso pelas distintas resoluções de um presente que imagina densidades do vir, que foi e vai ser ação em um mesmo intervalo.

Entendo essa criação enquanto experiência para acionar treinamentos do corpo em dança. Sou fascinado pelo movimento e intensifico meus trabalhos atualmente nessa direção. Não me interesso por criar algo novo, original, não acredito em original. Tenho apostado em estudar estratégias para tornar possível a ressignificação de padrões, estéticas e contextos, trazendo para as vistas uma ética que estabelece a criação enquanto a arte de atravessar o grande murmúrio de encontros poéticos, que permanecem vivos para além do prestígio autoral.”

BIOMASHUP vai nessa direção. Percebe, de modo obsessivo, padrões sensório-motores da dança e ocupa as intersecções ressignificando lugares lendários, a favor de um espaço-tempo que constantemente constrói a sua instância crível entre ficções.
︎


A fabulosa vontade de inventar a ação, que dá vida à comunidade de vaga-lumes chamada percepção.
Texto escrito para o programa de estréia do trabalho

Bruno Levorin, Julho 2014.


Biomashup é um conto sobre o movimento. Imagético por natureza, abre suas cortinas como os homens abrem suas pálpebras. Faminto, mastiga lampejos de poeira, horizonte, bando, road-movie, science fiction.

Enfeitiçado por uma jornada fantástica, o espaço é sítio que disponibiliza toda a sua afetividade, agressividade e nostalgia como concerto. É também onda que espanta os juízos de infelicidade, e céu que carrega uma névoa cheia de fogos. Redondo como Utopia deveria ser, onde não se sabe frente, costas, cima, baixo e lados, o tempo engorda e medita ao som da proximidade.

Destemido em repetir o que é necessário, Biomashup quica em quizas e gagueja uma multiplicadora falha de linguagem, a favor do direito da forma em desaparecer. Ganha, assim, a sensação que, estimulada pela arquitetura, faz o espectador perder o quadro e ganhar o palato com a língua.

Aceitar o convite para assistir o trabalho é estabelecer, junto com a vida, a deliciosa experiência de brilhar com borrifos de luz fria e quente. Caso os olhos se enganem, permita-se. Imaginar o imaterial é bonito e contemplar também é pensar.