Foto: Haroldo Saboia



Dramaturgia, para mim, é uma constelação de escutas. É estabelecer um compromisso de atenção conjunta, junto de todos os entes, humanos e não humanos, que se disponibilizam a dialogar na direção de uma criação.  Dramaturgia é um modo de tornar a captura, seja da peça, seja da vida, menos certeira, uma maneira de se afastar da rápida vontade em dar sentido às coisas. Ela é uma força que mantém vivo os problemas, as encrencas e luta pela manutenção disto.

Ser um/uma dramaturgista é ser alguém que nunca terá um  lugar de conforto dentro de uma criação. Um/uma dramaturgista sabe que sua função será fazer perguntas a tudo que acontece e por isso pode chegar ao limite de questionar a sua própria função. Justamente por ser aquele/aquela que sabe e deixa de saber sobre as coisas a todo momento, ele/ela sempre está se colocando em risco. A sua relação não é com os saberes mas com os usos. Instintivamente ele/ela é estrangeiro e percebe o quão fundamental isso se torna para ser mais sensível em perceber os inaugurais de cada evento e acontecimento realizado.  

Com uma grande amiga dramaturgista costumava dizer que a dramaturgia tem uma existência que independe de uma pessoa e que, se há alguém atento a isso, esse alguém trabalha pela sua própria desaparição, pela vontade em não mais ser necessário. Isso porque há na dramaturgia um lugar de formação para apreender o lugar de cada agente sobre o acontecimento. Sendo assim, quando isso já está estabelecido, o dramaturgista perde sua função.

Ele/Ela é uma espécie de conceito despertador.